Áudio Transcrito

Bom, ente de Classe, nasce da continuação de uma pesquisa feita para A Invenção do Nordeste, quando a gente descobre o sociólogo Jessé Souza e toda sua obra, que fala um pouco da classe média, fala um pouco não, fala bastante da classe média. E aí a gente decide separar a pesquisa, porque a gente achava que não caberia no espetáculo a invenção do nordeste, porque a gente achava que realmente era um espetáculo diferente.  

E aí, depois de estrear A Invenção do Nordeste, a gente inicia essa pesquisa, nas obras do Jessé, construindo uma dramaturgia que traz ao centro do palco, uma família de classe média, construída por uma mãe, dois filhos de pais separados, pais diferentes e separados, que vivem em um condomínio e tudo se passa nesse condomínio, é uma família endividada, mas que mantém a aparência, como a classe média é no Brasil hoje e todos os conflitos que trazem, que são pautas hoje na sociedade brasileira, criadas nessa classe.  

O espetáculo resgata a história do surgimento da classe média, desde as mulheres escravizadas estupradas pelos coronéis, tendo esses filhos que não são considerados nem brancos, nem negros, são aquele pessoal que fica ali entre o meio e que quando o Império vira República, assumem os cargos públicos. Então é isso, é um resgate da história, é uma reavaliação crítica dessa classe e de suas questões.  

O espetáculo trabalha com vídeo, com história performada mais uma vez, com projeção, muita música e aquele pegada ácida, cômica, ácida, que o Grupo Carmin sempre gosta de trabalhar, um pouco de ironia, um pouco de crítica e vai fazendo essa mistura gostosa.